Artigo-1
Fichamento:
A hemoglobina fetal (Hb F) é formada por duas cadeias alfa e duas cadeias gama, característica do período fetal do desenvolvimento, com expressão dos genes gG e gA. Após o nascimento, há uma redução da Hb F. Quando ocorre alterações hereditárias, a Hb F permanece aumentada, como nas delta-beta talassemias, nas beta talassemias, e nas persistências hereditárias de Hb F (PHHF). A partir dos resultados de doadores de sangue com Hb F aumentada, objetivou-se avaliar a quantidade dessa hemoglibina F do sangue dos doadores, visando estabelecer os limites normais para a população de São José do Rio Preto, por meio de desnaturação alcalina e HPLC, comparando-se as alterações encontradas nos indivíduos com a Hb F aumentada e assim realizar estudos para avaliar as mutações que alteram as expressões dos genes gama. Foram analisadas 208 amostras de sangue venoso de indivíduos de diferentes etnias, idade e sexo. Destas 119 foram de candidatos a doação de sangue do Hemocentro de São José do Rio Preto e Hemonúcleo de Fernandópolis e 89 de indivíduos pertencentes a programas populacionais de rastramento de hemoglobinas desenvolvidas pelo Laboratório de Hemoglobinas e Genéticas das Doenças Hematológicas(LHGDH). Tais amostras foram submetidas a testes para avaliar o perfil das hemoglobinas. Do total das amostras, 110 foram de doadores de sangue para serem normais para a Hb F, 9 amostras possuíam Hb F acima de 10% e 89 amostras de indivíduos de sangue sem sintomas de anemia ou achados hematológicos e com Hb F aumentada. Nas 110 amostras de indivíduos saudáveis sem sinais nem sintomas de anemia, foram encontrados fenótipos de hemoglobinas anormais, sendo a mais importante, 16,4 com alfa-talassemia. A presença de 10% acima de Hb F nos nove doadores revelou que 44,4% tinha o perfil de Hb AF assiciado à alfa talassemia. Nas 89 amostras em que os indivíduos não apresentavam sintomas de anemia e com Hb F acima dos valores normais vieram de diferentes estados do País, sendo a maioria de São Paulo. A persistência da Hb F após os seis meses de idade pode ser influenciada por defeitos genéticos ligados aos genes gama, associações com algumas hemoglobinopatias ou fatores ambientais. A Hb A2 aumentada é um dos melhores marcadores biológicos para o diagnóstico de beta talassemia heterozigota, no entanto, sua concentração pode ser influenciada pela associação com outros defeitos globínicos, deficiência de ferro e processos infecciosos. Os resultados obtidos mostra a importância da associação de metologias na triagem de hemoglobinopatias em candidatos a doação de sangue. Apesar de apresentarem valores de hematócrito que os admitia para a doação, nos indivíduos testados foram encontradas, além da Hb F aumentada, fenótipos talassêmicos com destaque para as alfa talassemias, confirmadas para 16,4% das amostras triadas. Na comparação das metodologias para a quantificação de Hb F, a HPLC mostrou-se mais eficiente do que a desnaturação alcalina, estabelecendo o perfil de normalidade da Hb F em valor percentual médio de 0,6% para este grupo da população de São José do Rio Preto e região, valor este bem próximo ao preconizado, pela literatura, de 0,4%. Nas análises moleculares dos indivíduos com Hb F aumentada, onde foram avaliados defeitos genéticos que originam beta talassemia, destacaram-se os achados dos mutantes CD6-A (5,3%) de origem mediterrânea e IVS2:654 (1,75%) de origem asiática. Em suma, o estudo evidenciou a necessidade de uma melhor caracterização dos perfis de hemoglobina obtida pelos métodos clássicos e a caracteriazação desses defeitos que reflete na diversidade genética dos brasileiros.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo