Revista da Associação Médica Brasileira - Rev. Assoc. Med. Bras. vol.43 n.1 São Paulo
Biologia molecular da doença de Alzheimer: uma luz no fim do túnel?
Demência aflige, aproximadamente, 5% da população com idade acima de 65 e 20% daqueles acima de 80 anos. Entre 1975-2000, espera-se um aumento no número de casos de demência de 54%, em países desenvolvidos, e de 123%, em despreparados países em desenvolvimento, como o Brasil. A doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência e é a quarta causa mais freqüente de morte em países desenvolvidos. As características básicas da DA foram descritas, no início deste século, por Alois Alzheimer, que relatou o caso de uma senhora de 51 anos de idade que foi trazida à atenção médica devido a um quadro de delírio de ciúmes em relação a seu marido. Nos meses que se seguiram, sua memória deteriorou rapidamente e ela passou a apresentar parafasias, apraxia e desorientação espacial. A paciente faleceu quatro anos e meio após o início dos sintomas. O exame anatomopatológico revelou um cérebro claramente atrofiado e, microscopicamente, a presença de fusos neurofibrilares, placas senis e perda neuronal. no final da década de 80, descobriu-se que alguns casos familiares de DA pré-senil (DAF) exibiam um linkage com uma região do braço longo do cromossomo 21. Isso, em associação com o fato de que pacientes portadores da trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down) desenvolvem quadro demencial e patologia cerebral semelhante àquela observada entre pacientes com DA, estimulou as pesquisas na busca de um possível gene para a DA nesse cromossomo. De fato, ao longo dos últimos anos, foram descritas várias associações entre DAF e mutações do gene da PPA, bem como de outras regiões do cromossomo 21. Entretanto, a maioria dos casos de DAF não apresenta nenhum tipo de linkage com o cromossomo 21, indicando que a DAF é uma patologia geneticamente heterogênea. demonstraram que pessoas que possuem o alelo e2 têm maior probabilidade de se tornarem centenárias que aquelas com o alelo e3, que, por sua vez, parecem ter maior sobrevida que pessoas com o alelo e4. De forma semelhante, a sintomatologia associada à DA se inicia mais precocemente quando o paciente possui dois alelos e4, e alguns anos mais tarde quando apenas um dos alelos é o e4. De fato, tem-se sugerido que a ausência de e4 pode retardar ou mesmo impedir a manifestação das mutações do cromossomo 21 claramente associadas a DA. Além disso, a associação entre e4 e DA é dependente da idade, sendo possível atingir velhice extrema sem demência, apesar da presença desse alelo. A universalidade desses achados ainda não foi claramente estabelecida, e é ainda incerto se a associação entre o alelo e4 e a DA em populações de países do Hemisfério Sul é semelhante àquela descrita para indivíduos vivendo no Hemisfério Norte. Existem evidências de que populações diferentes apresentam freqüências diferentes desse alelo, o que sugeriria que a prevalência e incidência de DA pode variar sensivelmente entre raças. o genótipo e4 está associado à DA e, portanto, indivíduos portadores desse genótipo apresentam risco aumentado de desenvolvimento da doença.
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