Uso de serviços odontológicos por pacientes com síndrome de Down
Ana Cristina OliveiraI; Dina CzeresniaII; Saul Martins PaivaI; Mônica Rodrigues CamposII; Efigênia Ferreira FerreiraI
Faculdade de Odontologia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, Brasil
Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, RJ, Brasil
A saúde bucal representa um aspecto importante para a inclusão social de pessoas com deficiência. Raramente as doenças bucais e as malformações orofaciais acarretam risco de morte, entretanto, causam quadros de dor, infecções, complicações respiratórias e problemas mastigatórios. Do ponto de vista estético, características como mau hálito, dentes mal posicionados, traumatismos, sangramento gengival, hábito de ficar com a boca aberta e ato de babar podem mobilizar sentimentos de compaixão, preconceito, acentuando atitudes de rejeição social. A odontologia deve está presente na vida desses pacientes tanto quanto a medicina, mas, a saúde bucal ainda é vista com baixa prioridade. No Brasil, a integralidade surgiu quando passou a fazer parte das propostas da reforma sanitária, no início dos anos 80 e incluída em programas de saúde, até ser incorporada como uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Este, possui como princípios a integralidade, universalidade, eqüidade, participação social e descentralização. A integralidade na odontologia é dividida em quatro parte: a primeira considera a integralidade das pessoas, definindo o conceito de boca como parte de um todo, o corpo, a segunda trata do atendimento integral, em que as pessoas devem ser atendidas em todas as suas necessidades de saúde, inclusive odontológicas, a terceira refere-se à integração dos serviços de saúde, onde a organização dos serviços depende de saberes de diferentes disciplinas, da regionalização das unidades na formação de um sistema de saúde local, a quarta dimensão é a intersetorialidade, vista como um pilar fundamental da integralidade. Foi realizado um estudo com mães e crianças portadores da SD entra os 3 a 18 anos de idade. As mães resolveram um questionário sobre as condições sociais e os atendimentos odontológicos que seus filhos sindrômicos exerciam. Foi realizado nos sindrômicos um exame clínico que diagnosticou principalmente presença de maloclusão, de lesões de cárie dentária e a qualidade da higiene bucal das crianças/adolescentes. Das crianças estudadas, 79,5% tinham ido ao menos uma vez ao dentista (IC 90% [72,3-87,8]), 79% pertenciam à classificação econômica menos favorecida. A idade média dos indivíduos com síndrome de Down era de 8 anos (±4 anos), 54% era do sexo masculino e 46% do sexo feminino. A idade média das mães era de 41 anos (±8 anos), 60 delas (54%) possuíam oito anos ou mais de estudo. No exame clínico foram identificados 83 (74%) crianças ou adolescentes com maloclusão e 41(37%) com pelo menos um dente com lesão de cárie dentária. A higiene bucal foi classificada como suficiente em 97 casos (87%). A falta de um banco de dados nacional, dificulta a obtenção de resultados da população de sindromicos e suas necessidades. O estudo mostrou que a maioria das crianças e adolecentes já tinham ido pelo menos uma vez em sua vida ao dentista. A escolaridade materna e a classe econômica não se associaram à experiência odontológica das crianças; provavelmente porque as mães desses pacientes com síndrome de Down podem recorrer aos serviços odontológicos públicos direcionados ao atendimento de pacientes especiais, mesmo não havendo cirurgiões-dentistas em seu quadro de atendimento, o hospital divulga para os pais ou responsáveis esses serviços públicos de assistência odontológica especializada. Acometimentos presentes na cavidade bucal de pessoas com síndrome de Down podem comprometer sua rotina de vida, provocando problemas de saúde, alterações comportamentais e dificuldade de interação social. Esse fato fortalece a questão da abordagem do profissional de saúde não ser restrita à sua especialidade, devendo dimensionar fatores de risco à saúde e conseqüentemente, executar ações preventivas. Ao exercer uma prática de trabalho atenta a identificar as necessidades de saúde apresentadas pelo usuário, o profissional passa a exercer um atendimento integral, evitando uma visão reducionista e fragmentária do paciente. Vários problemas dentários associados à síndrome de Down podem ser eliminados ou minimizados em pacientes assistidos pelo dentista ainda na fase de dentição decídua. Um problema dentário pode ser evitado caso o paciente receba cuidados preventivos antes da instalação ou agravamento. A atenção odontológica recebida pelas crianças e adolescentes com síndrome de Down foi influenciada, além da idade, pela postura dos profissionais que as assistem, mostrando a importância desses cuidadores atuarem com uma prática de atendimento integral.
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