Arquivos Brasileiros de Oftalmologia
Arq. Bras. Oftalmol. vol.70 no.4 São Paulo July/Aug. 2007
Ectrópio palpebral em portador da síndrome de Down e conjuntivite alérgica: relato de caso
A síndrome de Down representa uma anomalia cromossômica freqüente, relatada aproximadamente em 1 a cada 700 nascidos vivos. Ocorrem várias alterações oculares, como, catarata, ceratocone, estrabismo, manchas de Brushfield, triquíase, epífora, nistagmo e altas ametropias, miopia. Alterações palpebrais são freqüentes e contribuem para o estereótipo da síndrome, como fendas palpebrais oblíquas e estreitas, epicanto, blefarite crônica, blefaroconjuntivite, eversão congênita das pálpebras superiores, ectrópio ou entrópio de pálpebras superiores e inferiores e euribléfaro. Um portador de síndrome de Down, há 8 anos com ectrópio de pálpebras inferiores, com melhora na pálpebra inferior esquerda após uso de colírios para tratamento de conjuntivite alérgica e manutenção do quadro à direita, que já teve asma brônquica, cardiopatia e debilidade mental, conjuntivite alérgica tratada com vários colírios. Na síndrome de Down o ectrópio congênito é mais freqüente do que em outras crianças, podendo estar associado à flacidez ligamentar. Entretanto, observou-se aqui uma causa mecânica provocando a eversão palpebral que pode ter se iniciado pela existência de conjuntivite alérgica. A conjuntiva tarsal exposta tornou-se espessa, facilitando e perpetuando a eversão palpebral. Este mecanismo é freqüente nos processos alérgicos, quando a reação de hipersensibilidade do tipo 1 leva à degranulação de mastócitos, liberação de aminas vasoativas, citocinas e mediadores químicos, como o fator quimiotático eosinofílico e a proteína básica maior, com vasodilatação e extravasamento de líquido para a submucosa conjuntival, ocasionando os sintomas inflamatórios que podem se tornar crônicos. O longo período de inflamação conjuntival e quemose, pode contribuir para a flacidez horizontal da pálpebra, agravando a flacidez ligamentar e hipotonia da musculatura da face, presentes nos portadores de síndrome de Down. O ceratocone pode ocorrer na síndrome de Down. Entretanto, 10 a 16% dos portadores de alergia ocular podem apresentar ceratocone, devido ao ato de coçar o olho ou pela liberação de citocinas no processo alérgico. Portanto, o paciente em questão poderia ter desenvolvido o ceratocone secundariamente à conjuntivite alérgica. A cirurgia a ressecção da lamela posterior uma vez que, após 8 anos de exposição, a conjuntiva tarsal desenvolveu metaplasia, ceratinização e alterações cicatriciais, fazendo-se necessária a ressecção das áreas de fibrose para que fosse possível corrigir a deformidade palpebral.
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